domingo, 20 de novembro de 2011

Para ti


Foi para ti
que desfolhei a chuva...
para te soltei o perfume
da terra
toquei no nada
e para te fui tudo.
Para te criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre...

Para ti dei voz
às minhas mãos
abrir os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito 
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida. 

Mia Couto "Raiz de Orvalhos e Outros Poemas"   






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